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Escritos, artigos e catarses

Por Ana Luiza Faria

Colagem surrealista sobre tempo, trabalho e bem estar com mulher, formas orgânicas e flores secas
© Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução total ou parcial sem autorização.

Organizar o cotidiano com mais clareza é um passo decisivo para lidar com o ritmo acelerado que muitas rotinas impõem. Esse movimento ajuda a observar como escolhas diárias influenciam a forma como lidamos com pressões, responsabilidades e limites pessoais. Em vez de tentar dar conta de tudo, torna-se mais produtivo reconhecer o que realmente exige atenção e o que apenas ocupa espaço mental. Essa distinção reduz desgaste e abre margem para que o dia faça mais sentido, sem a sensação constante de acúmulo.


O uso do tempo não é apenas uma questão de organização, mas de coerência com aquilo que tem relevância concreta. Quando a rotina profissional toma mais espaço do que deveria, surgem tensões que se espalham para outras áreas da vida. Estudos sobre carga de trabalho mostram que pequenas pausas, distribuição equilibrada de tarefas e clareza sobre prioridades favorecem decisões mais consistentes. Não é necessário esperar grandes conflitos para ajustar a rota; observar sinais diários já oferece material suficiente para mudanças viáveis.


Trabalhar melhor não significa aumentar produtividade a qualquer custo, e sim compreender que o desempenho depende de condições realistas. Pressões contínuas, reuniões excessivas, comunicação falha e metas pouco definidas afetam a forma como as tarefas são vividas. Quando há foco em processos mais organizados, o resultado costuma ser maior estabilidade. O trabalho deixa de ser apenas um campo de obrigações e passa a ser um espaço onde é possível sustentar escolhas que preservem a saúde emocional.


Ter mais equilíbrio não exige transformações radicais. Muitas vezes, pequenas decisões já ajustam o ambiente interno: estabelecer limites, reduzir interferências constantes, estruturar o início e o fim do dia de forma mais firme e abrir intervalos que realmente interrompam a tensão. Essas atitudes favorecem atenção, clareza e presença, permitindo que o cotidiano deixe de ser guiado apenas por urgências. O bem estar aparece quando existe espaço para respirar, pensar e agir sem atropelos.


Ao olhar para o tempo e para o trabalho com mais precisão, novas possibilidades surgem. A vida não precisa ser conduzida em modo de sobrevivência contínua. Processos mais estáveis oferecem espaço para descanso, relações mais cuidadosas e decisões mais sólidas. Não se trata de buscar uma rotina perfeita, e sim de reconhecer limites e ajustar formas de viver e trabalhar. Quando essa percepção se consolida, o dia tende a ganhar qualidade, e a experiência profissional deixa de drenar energia de forma contínua.



Viver melhor: Um olhar prático sobre o tempo, trabalho e bem estar

Por Ana Luiza Faria

Colagem surrealista sobre compulsão por compras com mulher, formas orgânicas e fundo de papel
© Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução total ou parcial sem autorização.

A busca imediata por estímulos pode levar a escolhas marcadas pela rapidez e pela pouca análise das consequências. Quando esse padrão aparece de forma repetida, o impulso passa a ocupar um espaço que interfere no cotidiano. Em vez de uma compra pensada, surgem ações movidas pela urgência, como se o ato de adquirir algo oferecesse um breve alívio. Essa mudança no modo de decidir indica um funcionamento em que o desejo de rapidez tende a se sobrepor à capacidade de avaliar riscos, abrindo espaço para comportamentos que podem gerar desgaste emocional e financeiro.


A dificuldade de frear esses impulsos costuma envolver fragilidades na capacidade de regular tensões internas. O processo de conter um ato que surge com força exige um manejo constante das próprias sensações, especialmente quando o ambiente reforça a lógica da pressa e da satisfação imediata. A compra funciona, então, como um meio rápido de compensação, criando a sensação de controle passageiro. O objeto adquirido deixa de ser apenas algo útil e se torna um caminho para atenuar incômodos que não foram elaborados, funcionando mais como resposta emocional do que como necessidade concreta.


Quando esse padrão se repete, o ato de comprar passa a ocupar uma função rígida, ganhando características de compulsão. A pessoa se vê envolvida em um ciclo que começa com tensão, segue com a impulsividade e termina com alívio momentâneo, logo substituído por culpa ou preocupação. O objeto perde relevância em pouco tempo, o que mostra que o centro da questão não está na coisa comprada, mas na tentativa de silenciar desconfortos internos por meio de um gesto rápido. Esse processo tende a gerar isolamento e dificuldades na organização financeira, afetando diferentes áreas da vida.


Na prática clínica, observa-se que a compreensão do papel simbólico do objeto é fundamental. Muitas vezes, ele representa expectativa, preenchimento, aprovação ou compensação. A análise desse significado ajuda a ampliar a percepção sobre o que sustenta o comportamento e a criar caminhos para que o impulso não conduza automaticamente à ação. O foco não está em eliminar o desejo de comprar, mas em construir meios de lidar com tensões antes que elas se convertam em atos repetitivos. O acompanhamento permite que o sujeito reconheça padrões, identifique gatilhos e perceba alternativas para lidar com o que sente.


Os manejos clínicos costumam envolver estratégias que favorecem a reflexão antes do ato, o fortalecimento da capacidade de adiar impulsos e o desenvolvimento de formas mais consistentes de lidar com tensões. Trabalhar a relação com o objeto e com o próprio impulso amplia a possibilidade de escolhas mais conscientes. Esse processo ajuda a reduzir a necessidade de recorrer à compra como resposta imediata, favorecendo uma vida mais organizada e menos atravessada por urgências que se repetem. A construção desse caminho exige constância, cuidado e espaço para que a pessoa possa compreender, aos poucos, o que sustenta sua compulsão.


Referências Bibliográficas


O’Guinn, T. C., & Faber, R. J. (1989). Compulsive Buying: A Phenomenological Exploration. Journal of Consumer Research.


Koran, L. M., Faber, R. J., Aboujaoude, E., Large, M. D., & Serpe, R. T. (2006). Estimated Prevalence of Compulsive Buying Behavior in the United States. American Journal of Psychiatry.


Müller, A., Mitchell, J. E., & de Zwaan, M. (2015). Compulsive Buying: Phenomenology, Aetiology, and Treatment. CNS Drugs.


Black, D. W. (2011). Compulsive Buying Disorder. CNS Spectrums.


Compulsão por compras

Por Ana Luiza Faria

Mulher contemplativa com flores e folhas secas representando o movimento pulsional e o equilíbrio financeiro
© Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução total ou parcial sem autorização.

Há momentos em que a vida parece se concentrar em uma única pergunta silenciosa: como cheguei até aqui? O desequilíbrio das contas, a sensação de que nada rende e que o futuro ficou pequeno demais criam uma tensão constante entre o que se deseja e o que se consegue sustentar. Esse conflito não nasce apenas de números ou planilhas; ele se alimenta de impulsos que tentam aliviar desconfortos mais profundos. Quando o dinheiro escapa pelas bordas, muitas vezes é a expressão de uma dinâmica interna que também transborda. O que chamamos de descontrole pode ser, na verdade, um pedido de atenção a algo que se movimenta por dentro e busca resposta.


A pulsão, em seu sentido mais direto, é um empurrão interno que procura descarga. Ela não negocia, não avalia consequências e raramente espera. Diante de pressões emocionais, ela tende a buscar saídas rápidas: compras por impulso, adiamentos, tentativas de anestesiar desconfortos imediatos. E, embora pareça contraditório, quanto mais o cenário financeiro aperta, mais essas descargas podem ocorrer como tentativas de produzir alívio instantâneo. É um movimento que escapa da lógica e que, muitas vezes, tenta preencher vazios que não têm relação direta com dinheiro, mas encontram no dinheiro um caminho para se expressar.


O buraco financeiro costuma ganhar profundidade quando a pulsão assume o volante e a consciência fica em segundo plano. Não porque falte conhecimento, organização ou boa vontade, mas porque existe uma força interna que pede satisfação imediata. Essa força não busca futuro; ela busca agora. E o agora, quando dominado pela angústia, tende a criar atalhos caros. Nessas horas, olhar apenas para a planilha não resolve. É preciso reconhecer o impacto desses movimentos internos, porque é neles que se encontra a origem de grande parte dos padrões que repetimos sem perceber. Entrar em contato com esses impulsos não significa reprimi-los, mas entendê-los para que possam ganhar direção e não apenas descarga.


Há um ponto decisivo nesse caminho: perceber que reorganizar a vida financeira não é apenas ajustar comportamentos, mas ajustar sentidos. Quando alguém começa a observar as próprias motivações, medos e expectativas, surge um espaço de escolha que antes não existia. A pulsão não desaparece, mas deixa de comandar sozinha. Ela pode ser reconhecida, nomeada e atravessada sem que cada desconforto gere uma ação automática. Esse movimento interno transforma a relação com o dinheiro, não porque cria uma disciplina artificial, mas porque devolve clareza. E a clareza, nesse contexto, é mais valiosa do que qualquer técnica isolada.


Chegar ao equilíbrio não é um feito repentino; é um processo que envolve atenção constante aos próprios limites e desejos. A saída do vermelho, então, vai além da matemática. Ela passa por compreender o que cada gasto tenta resolver, o que cada adiamento tenta evitar e qual sensação tenta encontrar uma rota mais rápida para escapar. Quando esse diálogo se estabelece, a vida deixa de ser guiada pelo impulso cego e começa a se organizar a partir de escolhas mais alinhadas com o que realmente importa. Nesse ponto, o caminho deixa de ser apenas uma tentativa de “arrumar as finanças” e se torna uma forma de ampliar consciência sobre o próprio modo de existir no mundo inclusive na relação com o dinheiro.


Referencias bibliográficas:

BLEGER, J. Temas de psicologia: entrevista, grupo e instituição. São Paulo: Martins Fontes, 1984.


BAUMAN, Z. Vida para consumo: a transformação das pessoas em mercadorias. Rio de Janeiro: Zahar, 2008.


FREUD, S. Além do princípio do prazer (1920). In: FREUD, S. Obras completas. v. 14. São Paulo: Companhia das Letras, 2010.


FREUD, S. Pulsões e seus destinos (1915). In: FREUD, S. Obras completas. v. 12. São Paulo: Companhia das Letras, 2010.


GREEN, A. O discurso vivo: da pulsão ao discurso. São Paulo: Escuta, 1982.


AINSLIE, G. Breakdown of will. Cambridge: Cambridge University Press, 2001.


KAHNEMAN, D. Thinking, fast and slow. New York: Farrar, Straus and Giroux, 2011.


ARIELY, D. Predictably irrational. New York: HarperCollins, 2008.


LAPLANCHE, J.; PONTALIS, J.-B. Vocabulário da psicanálise. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1988.


LEDOUX, J. The emotional brain. New York: Simon & Schuster, 1996.

Sair do vermelho: Entre o buraco financeiro e o movimento pulsional




 Sair do vermelho: Entre o buraco financeiro e o movimento pulsional

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