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A diferença entre quem somos e quem pensamos que somos

  • Foto do escritor: Ana Luiza Faria
    Ana Luiza Faria
  • 27 de ago.
  • 3 min de leitura

Por Ana Luiza Faria

Colagem surrealista em fundo de papel amassado, com figura humana dividida em duas metades, linhas douradas e pretas, flores e folhas secas, simbolizando a diferença entre quem somos e quem pensamos que somos.
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Muitas vezes, olhamos no espelho e vemos apenas uma parte de nós mesmos. A imagem refletida não mostra os medos que escondemos, os desejos que não admitimos ou as forças que ainda não descobrimos. Existe uma distância silenciosa entre a pessoa que realmente somos e aquela que acreditamos ser. Essa diferença, embora desconfortável, faz parte da experiência humana.


Desde cedo, vamos construindo ideias sobre quem somos. Escutamos comentários da família, professores, amigos e, pouco a pouco, essas vozes externas moldam uma versão de identidade. Alguém pode crescer acreditando que é tímido, quando, na verdade, aprendeu a se calar para ser aceito. Outra pessoa pode se enxergar como forte, quando na verdade carrega uma fragilidade escondida, cuidadosamente disfarçada. O que pensamos sobre nós mesmos é, em grande medida, um reflexo das narrativas que fomos acumulando ao longo da vida.


Mas quem somos, de fato? Essa é uma pergunta que não se responde de forma rápida. Quem somos está nos gestos espontâneos, nas reações quando ninguém está observando, naquilo que sentimos em silêncio. É a versão de nós que surge antes do filtro da expectativa, antes da necessidade de agradar, antes das máscaras sociais que aprendemos a vestir.


A distância entre o “eu real” e o “eu pensado” pode gerar sofrimento. Muitas pessoas passam a vida tentando corresponder a uma imagem idealizada, esforçando-se para caber em papéis que não condizem com sua essência. Isso pode levar a frustração, ansiedade e sensação de vazio. Afinal, viver como quem acreditamos ser e não como realmente somos significa estar sempre em dívida consigo mesmo.


No entanto, essa diferença também pode ser um convite. Quando percebemos que aquilo que pensamos ser não dá conta da nossa complexidade, abre-se espaço para explorar o desconhecido dentro de nós. É nesse ponto que o autoconhecimento se torna essencial. Em processos de reflexão, terapia, escrita ou momentos de silêncio, podemos observar de perto as nossas contradições. Descobrimos que podemos ser tímidos em alguns contextos e expansivos em outros, fortes em certas situações e vulneráveis em tantas mais.


Somos feitos de paradoxos. Essa percepção traz liberdade, porque nos permite abandonar a rigidez das definições únicas e fixas. Não precisamos nos prender ao rótulo de quem pensamos ser. Podemos ser diferentes versões de nós mesmos, em transformação constante, e ainda assim existir em autenticidade.


Aceitar essa diferença é um passo importante. Significa compreender que nunca seremos uma identidade pronta, mas sim um processo em movimento. Quem pensamos ser pode mudar, porque nossa percepção se altera com as experiências. E quem somos também se revela pouco a pouco, como se retirássemos camadas de um tecido antigo que sempre guardou algo precioso em seu centro.


No fundo, talvez a grande questão não seja eliminar a diferença entre quem somos e quem pensamos que somos, mas aprender a conviver com ela. Esse espaço, que muitas vezes causa angústia, pode se tornar um território fértil para descobertas, encontros e novas possibilidades de existir.


Viver é aprender a nos reconhecer no meio dessa dança entre real e imaginado. Quando conseguimos nos olhar com curiosidade, em vez de julgamento, abrimos espaço para sermos menos reféns das expectativas e mais íntimos de nós mesmos. O caminho do autoconhecimento não é sobre chegar a uma definição final, mas sobre caminhar com leveza entre essas duas margens.


Talvez nunca consigamos coincidir completamente com a imagem que criamos de nós mesmos. E está tudo bem. A beleza da vida está justamente nessa diferença, nesse espaço onde podemos experimentar, falhar, nos reinventar. É ali, nesse intervalo, que mora a chance de viver com mais verdade e profundidade.

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