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A exaustão que vem do que não foi dito

  • Foto do escritor: Ana Luiza Faria
    Ana Luiza Faria
  • 15 de jul
  • 2 min de leitura

Por Ana Luiza Faria

Colagem surrealista de tom melancólico. Um rosto humano parcialmente coberto por fitas de papel com palavras apagadas, simbolizando o silêncio interior. Do centro do peito da figura brotam ramos secos, representando o peso do que não foi dito. O fundo é uma folha de papel levemente amassada, remetendo ao não dito e ao desgaste emocional. Cores suaves em bege, cinza e azul esmaecido criam uma atmosfera introspectiva e sensorial. A imagem expressa exaustão emocional de forma simbólica e poética.

Há um tipo de cansaço que o sono não resolve.

Um tipo de exaustão que não vem do excesso de tarefas, mas do excesso de silêncio.

Não o silêncio que repousa, mas o que adoece.


Vivemos cercados de palavras nas mensagens, nas reuniões, nas redes mas é o que não dizemos que pesa mais. Palavras que engolimos com medo de desagradar. Sentimentos que sufocamos por não saber se seriam bem-vindos. Verdades que se acumulam nos cantos da garganta até virarem nó. E o corpo aprende a carregar tudo isso como se fosse natural.


A exaustão emocional muitas vezes nasce do que não teve espaço. De emoções interditadas, pausadas indefinidamente, escondidas até mesmo de nós. O corpo começa a dar sinais uma tensão que não solta, uma respiração curta, uma insônia frequente. Não há um evento traumático claro, nenhum episódio que se destaque. Só uma espécie de cansaço psicológico que se instala aos poucos, silencioso e contínuo.


Essa sensação de estar sempre no limite, mesmo quando tudo parece “normal”, pode vir justamente do que não foi nomeado. Há experiências que, por falta de escuta, nunca chegaram a se tornar pensamento. Sentimentos que ficaram trancados em um canto escuro, sem ar. E ainda assim, mesmo sem palavras, continuam nos habitando.


Às vezes, o que nos esgota é essa constante necessidade de parecer bem, de seguir adiante como se tudo estivesse sob controle. Há um custo em manter a aparência de equilíbrio quando por dentro há um redemoinho mudo. O silêncio interior, nesses casos, não é paz é contenção. E conter, continuamente, cansa.


Em alguns momentos, percebemos que não é a vida em si que está pesada, mas a solidão de não poder compartilhá-la em sua inteireza. O desejo de ser compreendido coexistindo com o medo de se mostrar vulnerável. A fala represada como uma represa prestes a transbordar e que transborda de outras formas: em irritação, em apatia, em um choro que vem “do nada”.


É aí que o corpo fala. Não com palavras, mas com sintomas. O cansaço psicológico se traduz em pequenas desistências cotidianas, em uma leve desistência de si. Como se algo dentro soubesse que há algo por ser dito mas não sabe por onde começar.


E talvez não seja mesmo sobre começar com um grande discurso. Talvez seja só sobre ter um espaço onde o não dito possa começar a existir, ainda que timidamente. Onde o silêncio encontre escuta. Onde o peso possa ser nomeado, aos poucos, e assim, tornar-se leve.

Quantas palavras você tem carregado em silêncio?

E se parte do seu cansaço não for sobre tudo o que você faz, mas sobre tudo o que você ainda não disse?

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