A vida é também sobre arrependimentos ...
- Ana Luiza Faria
- 1 de set.
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Por Ana Luiza Faria

Há momentos na vida em que nos pegamos repetindo mentalmente uma cena do passado. Uma palavra que não dissemos, uma escolha que não fizemos, um gesto que não tivemos coragem de dar. Esses instantes se tornam registros insistentes, quase como cicatrizes invisíveis, que chamamos de arrependimento. Embora possam doer, não precisam ser apenas peso: podem se transformar em fonte de aprendizado e amadurecimento.
Essa sensação de ter falhado ou de ter deixado algo passar, em sua essência, mostra que algo em nós mudou. Se antes acreditávamos que determinada decisão era a melhor, o desconforto posterior revela que crescemos, que nossa visão de mundo se ampliou. Esse reconhecimento é um sinal de evolução: só percebe essa transformação quem já não é mais a mesma pessoa que agiu no passado. Nesse sentido, a experiência nos lembra que somos seres em constante movimento.
Mas como fazer com que esse sentimento não nos aprisione? O primeiro passo é acolher o que sentimos sem julgamento excessivo. Em vez de nos culparmos, é possível perguntar: “O que posso aprender com isso agora?”. Essa mudança de perspectiva nos tira da posição de vítimas do passado e nos coloca no papel de autores da própria história. Assim, o que antes pesava se converte em sabedoria prática.
Outra forma de ressignificar é perceber que errar é inevitável em qualquer processo de crescimento. Ninguém amadurece sem tropeçar. Quando entendemos que cada escolha carrega riscos e que não existe vida sem falhas, nos tornamos mais compassivos conosco. Essa compaixão abre espaço para que possamos olhar para trás com gentileza e para frente com coragem renovada.
Essas experiências também nos ensinam a valorizar a responsabilidade pelas próprias decisões. Elas apontam para aquilo que, de alguma forma, deixamos de viver. Ao reconhecermos isso, ganhamos clareza para agir de forma mais consciente no presente. A lembrança do que não foi feito pode se transformar em impulso para não deixar passar novas oportunidades, para falar aquilo que antes calamos, para viver com mais autenticidade.
Dar um novo sentido ao vivido não significa esquecer o que aconteceu, mas permitir que ele nos oriente. Em vez de carregar a marca da falta, podemos usá-la como bússola. Cada episódio do passado pode se tornar um lembrete silencioso: “da próxima vez, escolha de outro jeito”. É nesse movimento que o ontem deixa de ser prisão e se torna fonte de liberdade.
A vida não é feita apenas de acertos. Os equívocos, por mais desconfortáveis que sejam, são parte do caminho que nos forma. Quando conseguimos olhar para eles com respeito, transformamos o que parecia ser apenas um fardo em algo que nos fortalece. Afinal, a sabedoria não nasce apenas do que fizemos bem, mas também do que aprendemos a fazer diferente.
Assim, o convite é claro: não negue os arrependimentos ou os momentos de falha ou de hesitação, mas também não permita que definam quem você é. Reconheça-os, acolha-os e pergunte-se o que cada um tem a lhe ensinar. Dessa forma, a vida deixa de ser uma coleção de erros e passa a ser uma jornada de aprendizado contínuo, onde até mesmo as experiências difíceis guardam a delicadeza de nos mostrar quem ainda podemos nos tornar.