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Como as fases da vida afetam a perspectiva sobre o futuro

  • Foto do escritor: Ana Luiza Faria
    Ana Luiza Faria
  • 23 de dez de 2024
  • 3 min de leitura

Por Ana Luiza Faria

Como as fases da vida afetam a perspectiva sobre o futuro

O futuro, enquanto horizonte de possibilidades, está intrinsecamente vinculado ao nosso corpo e à forma como experienciamos o tempo em diferentes momentos da vida. Cada fase da vida que atravessamos infância, adolescência, vida adulta e envelhecimento—não apenas reflete alterações biológicas e emocionais, mas também transforma nossa percepção do que está por vir. Essa perspectiva sobre o futuro, longe de ser linear, é moldada pela interação entre as mudanças corporais, os contextos sociais e os processos internos que estruturam nossa existência.

Na infância, o futuro é um conceito nebuloso, uma abstração que começa a ganhar forma por meio das experiências sensoriais e dos vínculos que estabelecemos com o mundo. O corpo infantil, em constante crescimento, é um palco de exploração. A plasticidade cerebral, em seu ápice, permite que a criança absorva o mundo de maneira intensa e imediata, mas ainda sem a capacidade de projetar-se amplamente no tempo. O futuro, para a criança, é um reflexo do presente, um campo de possibilidades delimitado pelas fantasias e pela orientação dos adultos que guiam sua experiência. Nesse momento, o corpo age como mediador do aqui e agora, construindo uma base sensorial e emocional que sustentará perspectivas futuras mais complexas.

Com a adolescência, surge a emergência de um futuro mais definido, mas também carregado de incertezas. Essa fase, marcada por intensas mudanças hormonais e neurológicas, representa um ponto de inflexão no modo como pensamos adiante. A reorganização cerebral, particularmente no córtex pré-frontal, amplia a capacidade de planejar, imaginar cenários e antecipar consequências, ainda que o impulso emocional muitas vezes predomine. O corpo adolescente, em transformação, reflete tanto a possibilidade quanto o desconforto de um futuro que exige escolhas e que, pela primeira vez, carrega o peso da responsabilidade. O futuro é, nesse momento, vivido como um espaço de idealizações, mas também de crises identitárias, onde a necessidade de pertencimento e a busca por autonomia dialogam constantemente.

A vida adulta traz consigo um amadurecimento da percepção temporal. O corpo, agora mais estabilizado, torna-se um instrumento de concretização, capaz de realizar os projetos que antes eram apenas esboçados. A plasticidade cerebral, ainda presente, mas mais seletiva, permite uma adaptação às exigências do ambiente, enquanto a experiência acumulada serve como referência para imaginar o futuro de maneira mais prática e realista. É nessa fase que o futuro deixa de ser um campo abstrato de possibilidades infinitas para tornar-se um espaço delimitado por escolhas feitas no passado e pelo reconhecimento dos limites corporais e sociais. Contudo, é também nessa fase que muitas pessoas começam a questionar seus trajetos e a ressignificar suas perspectivas, buscando alinhar o que foi vivido com o que ainda pode ser.

No envelhecimento, o futuro adquire uma tonalidade distinta, frequentemente permeada por um senso de finitude. O corpo, agora marcado pelo tempo, se torna um símbolo tanto de vulnerabilidade quanto de sabedoria. A neurociência sugere que, apesar da redução de certas capacidades cognitivas, como a velocidade de processamento, há um fortalecimento das conexões emocionais e da capacidade de priorizar o que é mais significativo. Essa reorganização cerebral permite que o futuro seja vivido menos como uma projeção distante e mais como uma extensão do presente, onde a qualidade do tempo importa mais do que sua quantidade. O corpo envelhecido, ao contrário do que se pensa, não é apenas um depósito de perdas, mas um território que pode ser habitado de forma consciente e criativa, reestruturando a relação com o que ainda está por vir.

A relação entre o corpo e a perspectiva do futuro atravessa todas essas fases, revelando como somos moldados por nossas experiências sensoriais e emocionais. O futuro não é um conceito fixo; ele é tecido no entrelaçamento entre o presente vivido e o corpo que habitamos. A epigenética nos lembra que o ambiente e as experiências podem alterar a expressão de nossos genes, o que significa que o futuro não está predeterminado, mas é constantemente remodelado pelas interações entre nosso corpo e o mundo.

Ressignificar o futuro em cada fase da vida exige um olhar atento para o presente e uma disposição para habitar o corpo como ele é, em sua complexidade e potencial. Não se trata de negar as limitações impostas pelo tempo, mas de reconhecê-las como parte do processo de estar vivo. Ao longo da vida, somos convidados a ajustar nossas expectativas e a recriar nossas narrativas, permitindo que o futuro, mesmo incerto, seja um espaço onde possamos continuar a crescer e a nos transformar.

Essa perspectiva nos lembra que o futuro não é apenas uma linha distante, mas um reflexo das escolhas que fazemos hoje, das sensações que cultivamos e dos significados que atribuímos às nossas experiências. Ao abraçar as transformações do corpo e da mente em cada etapa da vida, encontramos a possibilidade de olhar adiante com coragem e criatividade, reconhecendo que o futuro é, em essência, uma continuidade do presente que vivemos.

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