Por que algumas pessoas são mais emotivas que outras?
- Ana Luiza Faria
- 26 de set
- 3 min de leitura
Por Ana Luiza Faria

A intensidade com que cada pessoa sente e expressa suas emoções não é fruto do acaso. Existem fatores biológicos, psicológicos e sociais que contribuem para que uns vivam as experiências emocionais de forma mais intensa, enquanto outros parecem manter maior estabilidade diante das mesmas situações. Compreender esses aspectos pode ajudar não apenas a aceitar as diferenças individuais, mas também a refletir sobre como cada trajetória de vida molda o modo de sentir.
Do ponto de vista biológico, estudos mostram que o funcionamento do sistema nervoso central tem grande impacto na forma como respondemos ao mundo. Pesquisas em neurociência identificam que estruturas como a amígdala e o córtex pré-frontal regulam a intensidade das respostas emocionais. Pessoas com maior reatividade da amígdala, por exemplo, tendem a vivenciar sentimentos de forma mais marcante (Pessoa, 2017). Além disso, fatores genéticos influenciam a sensibilidade emocional. Uma revisão conduzida por Kret e Ploeger (2015) destaca que herdamos predisposições que podem nos tornar mais atentos e responsivos às mudanças do ambiente.
Mas a biologia não atua sozinha. A história de vida desempenha papel central. Indivíduos que cresceram em contextos de instabilidade emocional ou altos níveis de estresse podem desenvolver um padrão de maior vigilância e intensidade afetiva. Já aqueles que tiveram experiências de segurança e acolhimento podem internalizar modos mais regulados de lidar com sentimentos. Esse aspecto foi amplamente discutido pela teoria do apego, de John Bowlby, que mostrou como os vínculos iniciais deixam marcas profundas na forma de sentir e se relacionar.
Também não se pode ignorar a dimensão cultural. Sociedades diferentes ensinam, de modos explícitos ou sutis, como se deve expressar ou controlar emoções. Em alguns grupos, demonstrar sensibilidade é visto como sinal de autenticidade e conexão, enquanto em outros pode ser interpretado como fraqueza. Essa moldura cultural ajuda a explicar por que pessoas que vivem em ambientes distintos desenvolvem estilos emocionais variados. Pesquisas interculturais de Matsumoto (2006) demonstram que normas sociais determinam não apenas como reagimos internamente, mas principalmente o quanto mostramos ao mundo essas reações.
A psicologia contemporânea também destaca o papel da personalidade. O traço de "neuroticismo", descrito nos modelos dos Cinco Grandes Fatores, está associado a maior instabilidade emocional. Indivíduos com pontuação mais elevada nesse traço tendem a experimentar altos e baixos intensos, enquanto aqueles com níveis mais baixos mostram maior constância. Isso não significa defeito ou virtude, mas diferentes formas de perceber a vida.
É importante lembrar que a intensidade emocional pode trazer tanto desafios quanto potenciais. Pessoas que sentem mais profundamente podem enfrentar maior vulnerabilidade a estados de ansiedade ou tristeza, mas também apresentam elevada capacidade de empatia e sensibilidade estética. Já os que vivem emoções de maneira mais equilibrada podem ter facilidade em manter estabilidade e foco, mas podem se sentir menos mobilizados em certas experiências. Não se trata de estabelecer o que é melhor ou pior, mas de reconhecer a diversidade humana.
O que fica evidente é que ser mais ou menos emotivo resulta de uma complexa interação entre biologia, ambiente, cultura e escolhas pessoais. Refletir sobre isso nos ajuda a enxergar as diferenças sem julgamento, lembrando que cada modo de sentir é, em si, uma forma de existir no mundo.
Referências Bibliográficas
BOWLBY, John. A secure base: parent-child attachment and healthy human development. New York: Basic Books, 1988.
KRET, M. E.; PLOEGER, A. Emotion processing deficits: a liability spectrum providing insight into psychopathology. Frontiers in Psychology, Lausanne, v. 6, p. 981, 2015. DOI: https://doi.org/10.3389/fpsyg.2015.00981.
MATSUMOTO, D. Are cultural differences in emotion regulation mediated by personality traits? Journal of Cross-Cultural Psychology, Thousand Oaks, v. 37, n. 4, p. 421-437, 2006. DOI: https://doi.org/10.1177/0022022106288478.
PESSOA, Luiz. The cognitive-emotional brain: from interactions to integration. Cambridge: MIT Press, 2017.
Por que algumas pessoas são mais emotivas que outras?