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Reflexões sobre a Cultura do 'Curtir': Uma análise da Sociedade Paliativa de Byung-Chul Han

  • Foto do escritor: Ana Luiza Faria
    Ana Luiza Faria
  • 19 de ago. de 2023
  • 2 min de leitura

O livro "Sociedade Paliativa: a dor hoje", escrito pelo filósofo Byung-Chul Han, aborda a atual cultura do "Curtir", que busca evitar o desconforto a todo custo, transformando tudo em uma busca constante por satisfação. Esse anseio pelo "curtir" se espalhou por todas as esferas da vida, não se limitando apenas às plataformas de mídia social, mas permeando todos os aspectos das relações humanas. Nas sociedades contemporâneas, a ênfase recai na criação de uma imagem "instagramável", marcada por poses ensaiadas e um esforço para parecer "feliz" constantemente, enquanto se evita a exposição de conflitos, contradições, dores e sofrimentos. Segundo Byung-Chul Han, falta a esta sociedade a possibilidade da catarse.


Capa do livro Sociedade Paliativa: A dor de hoje de Byung-Chul Han

O livro observa como a "algofobia", ou seja, o medo generalizado da dor, se disseminou amplamente, e a tolerância à dor diminuiu consideravelmente. Esse temor da dor resultou em um estado de anestesia constante, onde qualquer experiência dolorosa é evitada a todo custo. A sociedade atual é dominada por um culto à positividade, em que se busca afastar qualquer forma de negatividade. Nesse contexto, a dor é vista como uma manifestação da negatividade pura e simples.

A psicologia também se encaixou nesse novo paradigma, migrando da abordagem negativa focada no "sofrimento" para a psicologia positiva, centrada no bem-estar, na felicidade e no otimismo. Pensamentos negativos são suprimidos e substituídos rapidamente por pensamentos positivos. A ideologia da resiliência do neoliberalismo transforma até mesmo experiências traumáticas em impulsionadores para um melhor desempenho, chegando a falar de um "crescimento pós-traumático".


A busca pela resiliência se transformou em uma busca por uma felicidade perene, tornando as pessoas menos sensíveis à dor. A sociedade paliativa se alinha à cultura do desempenho, onde a dor é considerada um sinal de fraqueza e deve ser escondida ou eliminada através da otimização. A dor é incompatível com a noção de desempenho, e a busca incessante pela positividade marginaliza sua importância.


Byung-Chul Han também explora como o poder, sob o paradigma neoliberal, assume uma forma positiva e "inteligente", operando sem recorrer à repressão. Esse poder "inteligente" seduz e influencia sutilmente, mascarando sua dominação sob a aparência de liberdade. A sociedade atual está imersa em um dispositivo de felicidade que individualiza as pessoas, levando à despolitização e à falta de solidariedade. A pressão pela automotivação e auto-otimização mascara as misérias sociais subjacentes, desviando o foco das verdadeiras questões.


A cultura paliativa afasta as pessoas da capacidade de expressar e compartilhar a dor de maneira significativa. A dor é privada de sua dimensão estética e transformada em um problema médico a ser tratado com analgésicos. Essa abordagem entorpece a dor, impedindo que ela desencadeie processos narrativos. A sociedade paliativa nega a dor como um elemento essencial para a criação de vínculos intensos e autênticos, contribuindo para a individualização e a falta de conexões verdadeiras.


A busca incessante pelo "curtir" e pela positividade limita a capacidade de enfrentar a dor de maneira construtiva. A negatividade da dor, no entanto, desempenha um papel crucial ao interromper o ciclo uniforme da vida cotidiana, possibilitando a emergência de algo novo e genuíno. A sociedade paliativa, no entanto, restringe o espaço para essa transformação, enfatizando o bem-estar superficial e a escrita banal, enquanto sufoca qualquer poética da dor.


(Fonte: HAN, Byung-Chul. Sociedade Paliativa: a dor hoje. Tradução: Lucas Machado. Petrópolis, RJ: Vozes, 2021.)

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