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A influência do inconsciente nas escolhas de vida

  • Foto do escritor: Ana Luiza Faria
    Ana Luiza Faria
  • 5 de fev.
  • 4 min de leitura

Por Ana Luiza Faria

A influência do inconsciente nas escolhas de vida

Quando pensamos em decisões importantes da vida como escolher uma carreira, um parceiro ou até mesmo o que comer no café da manhã tendemos a acreditar que estamos no controle total dessas escolhas. No entanto, muitos estudos na área da psicologia sugerem que grande parte das nossas decisões é influenciada por algo que nem sempre percebemos: o inconsciente. O conceito de inconsciente foi amplamente desenvolvido por Sigmund Freud no início do século XX. Para Freud, o inconsciente é uma parte da mente que armazena desejos, memórias e emoções que não estão disponíveis para a nossa consciência imediata. Esses conteúdos podem ser reprimidos porque são considerados inaceitáveis ou dolorosos, mas continuam a influenciar nossos pensamentos, sentimentos e comportamentos de maneira indireta.


Esse entendimento foi posteriormente expandido por Jacques Lacan, que enfatizou o papel da linguagem e dos símbolos no funcionamento do inconsciente. Para Lacan, o inconsciente é estruturado como uma linguagem, e muitas de nossas escolhas são guiadas por significados que nem sempre compreendemos conscientemente. Embora essas teorias tenham surgido há décadas, elas continuam relevantes hoje, especialmente à luz de estudos recentes em neurociência e psicologia. Pesquisas confirmam que grande parte do nosso processamento mental ocorre abaixo do nível da consciência, influenciando desde nossas preferências diárias até interações sociais mais complexas. (Bargh & Chartrand, 1999).


Essa influência do inconsciente pode ser observada em situações cotidianas, como quando escolhemos determinada marca de café ou preferimos certos tipos de música. Muitas dessas escolhas aparentemente triviais são moldadas por hábitos enraizados ao longo do tempo, frequentemente originados em experiências passadas que foram internalizadas de forma inconsciente. Além disso, nossas preferências emocionais também desempenham um papel importante. Certos alimentos, cheiros ou sons podem evocar memórias ou emoções que não estão claras para nós, mas que guiam nossas decisões de maneira automática. Outro fator a considerar são os vieses cognitivos, que operam de forma inconsciente e nos levam, por exemplo, a confiar mais em pessoas que se parecem conosco, mesmo sem percebermos essa tendência.


Além dessas manifestações cotidianas, o inconsciente também desempenha um papel crucial em padrões de comportamento mais profundos, muitas vezes relacionados a traumas infantis. Uma das contribuições mais significativas de Freud foi a ideia de que traumas da infância podem deixar marcas profundas no inconsciente, influenciando comportamentos na vida adulta. Ele chamou isso de "repetição compulsiva" a tendência de reviver situações traumáticas ou problemáticas, mesmo quando isso nos causa sofrimento. Por exemplo, alguém que cresceu em um ambiente familiar instável pode inconscientemente buscar relacionamentos turbulentos na vida adulta, reproduzindo o padrão de instabilidade. Da mesma forma, uma pessoa que foi criticada excessivamente na infância pode desenvolver uma autoestima baixa e, sem perceber, sabotar suas próprias realizações para evitar críticas. Esses padrões repetitivos são frequentemente difíceis de identificar porque estão enraizados no inconsciente, mas trazê-los à tona pode ser o primeiro passo para transformá-los.


Outra forma de acessar o inconsciente é através dos sonhos, que Freud considerava "a via régia para o inconsciente". Ele acreditava que, enquanto dormimos, o inconsciente tem mais liberdade para expressar desejos e conflitos reprimidos. Embora nem todos os sonhos tenham significados profundos, alguns podem oferecer insights valiosos sobre questões emocionais não resolvidas. Lacan, por outro lado, enfatizava o papel dos símbolos nos sonhos, argumentando que eles são uma forma de linguagem que precisa ser interpretada. Por exemplo, sonhar repetidamente com quedas pode simbolizar medo de perder o controle em algum aspecto da vida. Explorar os sonhos pode ser uma ferramenta útil para acessar o inconsciente, especialmente em contextos terapêuticos, ajudando-nos a refletir sobre os temas e símbolos presentes neles e identificar áreas da vida que precisam de atenção.


Esses conflitos internos também podem se manifestar de maneira mais sutil, como autossabotagem, frustrando nossos esforços conscientes para alcançar objetivos. Isso acontece porque o inconsciente pode abrigar crenças limitantes ou conflitos internos que contradizem nossas intenções conscientes. Por exemplo, alguém que deseja emagrecer pode inconscientemente associar comida a conforto emocional, sabotando seus esforços para adotar hábitos saudáveis. Da mesma forma, um profissional que busca promoção no trabalho pode inconscientemente temer o aumento de responsabilidades, levando-o a procrastinar ou evitar oportunidades. Essa autossabotagem é frequentemente resultado de conflitos entre o que queremos conscientemente e o que o inconsciente "acha" que é melhor para nós. Trabalhar esses conflitos em terapia pode ajudar a alinhar nossas intenções conscientes com nossas motivações inconscientes, promovendo maior coerência em nossas escolhas.


O inconsciente, portanto, é uma força poderosa que molda nossas escolhas de maneiras sutis e complexas. Desde pequenas decisões diárias até padrões de comportamento mais amplos, ele influencia como vivemos nossas vidas sem que muitas vezes nos demos conta disso. Compreender seu funcionamento pode nos ajudar a tomar decisões mais conscientes e a superar obstáculos internos que nos impedem de alcançar nossos objetivos. Ao refletir sobre os exemplos apresentados neste artigo, você pode começar a identificar como o inconsciente impacta aspectos importantes da sua trajetória pessoal. Para quem deseja explorar essas questões em maior profundidade, a psicoterapia oferece um caminho valioso. Ela permite acessar camadas mais profundas da mente, revelando influências ocultas e ajudando a transformar padrões que já não contribuem para o bem-estar. Reconhecer essas dinâmicas internas é o primeiro passo para construir uma vida mais autêntica e alinhada com seus verdadeiros desejos e valores.


Referências:

Bandura, A. (2007). Autoeficácia: O Sentido de Eficácia Pessoal . Tradução de José Fernando Perez. Editora Pearson.


Bargh, J. A., & Chartrand, T. L. (1999). The unbearable automaticity of being. American Psychologist, 54 (7), 462–479.


Beck, A. T. (2015). Terapia Cognitiva: Teoria e Prática . Tradução de Maria Luiza X. de A. Borges. Editora Artmed.


Freud, S. (2010). A Interpretação dos Sonhos . Tradução de Paulo César de Souza. Editora Companhia das Letras.


Freud, S. (2011). Além do Princípio do Prazer . Tradução de Paulo César de Souza. Editora Companhia das Letras.


Lacan, J. (2008). Escritos . Tradução de Vera Ribeiro. Editora Zahar.

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