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Como a rotina pode esconder perguntas importantes

  • Foto do escritor: Ana Luiza Faria
    Ana Luiza Faria
  • 8 de ago.
  • 2 min de leitura

Por Ana Luiza Faria

Colagem surrealista com fundo de papel amassado, formas orgânicas, linhas finas douradas e pretas, figura humana contemplativa, flores secas e atmosfera introspectiva.
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A rotina é silenciosa. Ela não chega de repente, mas se instala aos poucos, como quem puxa uma cadeira e decide ficar. No início, parece uma aliada: oferece previsibilidade, organiza o dia, dá a sensação de que tudo está no lugar certo. Mas, enquanto seguimos suas instruções invisíveis, algo acontece sem que percebamos, começamos a andar no piloto automático.


Nesse movimento repetitivo, o tempo deixa de ser sentido e passa a ser apenas contado. Trabalhar, responder mensagens, cumprir compromissos, preparar refeições, organizar tarefas… Até que, um dia, percebemos que faz tempo que não nos perguntamos o que realmente queremos, o que nos move ou o que já não faz sentido carregar.


A rotina pode ser tão confortável quanto perigosa. Ela nos protege do caos, mas também pode nos afastar de nós mesmos. Quando tudo se repete, não é apenas o corpo que segue padrões: a mente também passa a evitar perguntas incômodas. “Estou feliz com a vida que tenho?” “Essas escolhas ainda são minhas ou se tornaram apenas hábitos?” “O que ficou para trás porque eu não quis ou não consegui olhar?”


Essas questões não desaparecem; elas se escondem. Vivem nos espaços vazios entre uma tarefa e outra, nas pausas que evitamos, nos silêncios que preenchemos com qualquer distração. Quanto mais evitamos, mais a rotina se encarrega de cobrir essas lacunas, como poeira que se acumula em móveis pouco usados.


Não se trata de romper com a rotina, mas de transformá-la em um espaço vivo, onde perguntas possam existir sem pressa de resposta. Pequenos rituais de pausa podem funcionar como portas abertas para a escuta interna: caminhar sem fones de ouvido, tomar um café observando o céu, escrever pensamentos soltos em um caderno, permitir-se não preencher cada minuto com produtividade.


É no ato de desacelerar que se percebe o que estava oculto. Às vezes, a pergunta não é clara de imediato ela chega como uma sensação estranha, um desconforto sutil ou uma lembrança insistente. Reconhecer isso exige coragem: abrir espaço para sentir pode significar admitir que mudanças são necessárias.


E, ainda assim, essa escuta é um convite para a vida se expandir. Perguntas importantes não são ameaças; são guias silenciosos que nos lembram de que não estamos aqui apenas para repetir, mas para escolher. Escolher o que manter, o que deixar e o que criar de novo.


A rotina, quando consciente, pode se tornar um suporte para essas descobertas. Não como um muro que nos limita, mas como um chão firme onde possamos caminhar enquanto olhamos para dentro. Porque viver sem perguntas é viver sem perceber e, no fim, são as perguntas que nos lembram que estamos vivos.

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