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Compulsão por compras: Quando a compra assume um papel emocional

  • Foto do escritor: Ana Luiza Faria
    Ana Luiza Faria
  • há 2 dias
  • 3 min de leitura

Por Ana Luiza Faria

Colagem surrealista sobre compulsão por compras com mulher, formas orgânicas e fundo de papel
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A busca imediata por estímulos pode levar a escolhas marcadas pela rapidez e pela pouca análise das consequências. Quando esse padrão aparece de forma repetida, o impulso passa a ocupar um espaço que interfere no cotidiano. Em vez de uma compra pensada, surgem ações movidas pela urgência, como se o ato de adquirir algo oferecesse um breve alívio. Essa mudança no modo de decidir indica um funcionamento em que o desejo de rapidez tende a se sobrepor à capacidade de avaliar riscos, abrindo espaço para comportamentos que podem gerar desgaste emocional e financeiro.


A dificuldade de frear esses impulsos costuma envolver fragilidades na capacidade de regular tensões internas. O processo de conter um ato que surge com força exige um manejo constante das próprias sensações, especialmente quando o ambiente reforça a lógica da pressa e da satisfação imediata. A compra funciona, então, como um meio rápido de compensação, criando a sensação de controle passageiro. O objeto adquirido deixa de ser apenas algo útil e se torna um caminho para atenuar incômodos que não foram elaborados, funcionando mais como resposta emocional do que como necessidade concreta.


Quando esse padrão se repete, o ato de comprar passa a ocupar uma função rígida, ganhando características de compulsão. A pessoa se vê envolvida em um ciclo que começa com tensão, segue com a impulsividade e termina com alívio momentâneo, logo substituído por culpa ou preocupação. O objeto perde relevância em pouco tempo, o que mostra que o centro da questão não está na coisa comprada, mas na tentativa de silenciar desconfortos internos por meio de um gesto rápido. Esse processo tende a gerar isolamento e dificuldades na organização financeira, afetando diferentes áreas da vida.


Na prática clínica, observa-se que a compreensão do papel simbólico do objeto é fundamental. Muitas vezes, ele representa expectativa, preenchimento, aprovação ou compensação. A análise desse significado ajuda a ampliar a percepção sobre o que sustenta o comportamento e a criar caminhos para que o impulso não conduza automaticamente à ação. O foco não está em eliminar o desejo de comprar, mas em construir meios de lidar com tensões antes que elas se convertam em atos repetitivos. O acompanhamento permite que o sujeito reconheça padrões, identifique gatilhos e perceba alternativas para lidar com o que sente.


Os manejos clínicos costumam envolver estratégias que favorecem a reflexão antes do ato, o fortalecimento da capacidade de adiar impulsos e o desenvolvimento de formas mais consistentes de lidar com tensões. Trabalhar a relação com o objeto e com o próprio impulso amplia a possibilidade de escolhas mais conscientes. Esse processo ajuda a reduzir a necessidade de recorrer à compra como resposta imediata, favorecendo uma vida mais organizada e menos atravessada por urgências que se repetem. A construção desse caminho exige constância, cuidado e espaço para que a pessoa possa compreender, aos poucos, o que sustenta sua compulsão.


Referências Bibliográficas


O’Guinn, T. C., & Faber, R. J. (1989). Compulsive Buying: A Phenomenological Exploration. Journal of Consumer Research.


Koran, L. M., Faber, R. J., Aboujaoude, E., Large, M. D., & Serpe, R. T. (2006). Estimated Prevalence of Compulsive Buying Behavior in the United States. American Journal of Psychiatry.


Müller, A., Mitchell, J. E., & de Zwaan, M. (2015). Compulsive Buying: Phenomenology, Aetiology, and Treatment. CNS Drugs.


Black, D. W. (2011). Compulsive Buying Disorder. CNS Spectrums.


Compulsão por compras

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