top of page

Espiral Infindável: Reflexões sobre excesso e a repetição na prática psicanalítica

  • Foto do escritor: Ana Luiza Faria
    Ana Luiza Faria
  • 26 de ago. de 2023
  • 3 min de leitura

Por Ana Luiza Faria

Mulher se desintegrando

A psicanálise, como disciplina que busca compreender os meandros da psique humana, encontra-se imersa em um complexo tecido de conceitos e fenômenos. Entre esses, destacam-se o excesso e a repetição, duas forças intrínsecas que tecem uma intrincada teia de significados dentro da prática psicanalítica. Aprofundar-se nesses temas é como adentrar uma espiral infindável, onde as camadas de significado se desdobram constantemente, revelando insights sobre a natureza do psiquismo humano.


O excesso, por si só, denota a presença de algo que ultrapassa uma medida considerada adequada. Na psicanálise, essa noção não se limita ao plano material, mas também abrange o campo psíquico. Freud, em seus estudos sobre o prazer e o princípio do prazer, identificou que os impulsos humanos muitas vezes buscam exceder os limites estabelecidos pela realidade. O id, regido pelo princípio do prazer, anseia por satisfação imediata e completa, sem considerar as restrições do mundo exterior.


No entanto, esse excesso é contrabalançado pelo ego e pelo superego. O ego age como mediador entre os impulsos do id e as demandas da realidade, buscando um equilíbrio que permita a satisfação, mas de maneira adaptativa. Já o superego, internalizando normas sociais e morais, impõe limites adicionais aos desejos do id, muitas vezes gerando conflitos internos. Essas batalhas entre impulsos desenfreados e restrições internas criam um terreno fértil para a emergência da repetição.


A repetição, por sua vez, transcende a simples reiteração de eventos ou comportamentos. Ela se manifesta como uma tentativa inconsciente de dar sentido a traumas não resolvidos ou a conflitos mal elaborados do passado. Através da repetição, o indivíduo tenta reelaborar emocionalmente situações passadas que, por não terem sido devidamente assimiladas, permanecem ativas na psique. Essa é uma das maneiras pelas quais o inconsciente busca encontrar uma saída para dilemas que parecem insolúveis.


Na clínica psicanalítica, a repetição muitas vezes se revela nos padrões de comportamento dos pacientes. Eles podem se encontrar repetindo situações semelhantes em suas vidas, escolhendo parceiros ou empregos que reproduzem dinâmicas passadas, mesmo que inconscientemente. Esses padrões repetitivos podem ser interpretados como uma forma de tentar resolver questões não resolvidas do passado, buscando um desfecho diferente ou uma resolução emocional.

A interação entre o excesso e a repetição na prática psicanalítica cria um campo rico para a exploração terapêutica. O analista, atento a esses padrões, pode ajudar o paciente a trazer à consciência os impulsos excessivos, os conflitos internos e as repetições inconscientes. Ao trazer à tona esses aspectos, o paciente tem a oportunidade de examinar sua história pessoal de maneira mais profunda e compreender como ela influencia sua vida presente.

No entanto, adentrar nessa espiral infindável de significados não é tarefa simples. A natureza do inconsciente e a complexidade das emoções humanas podem tornar o processo analítico desafiador. É um trabalho que exige paciência, sensibilidade e a capacidade de lidar com ambiguidades e contradições. Cada camada de significado desvelada muitas vezes revela outra camada, como se fossem os anéis de uma espiral que se expande.

Em última análise, a exploração do excesso e da repetição na prática psicanalítica não apenas enriquece nossa compreensão da psique humana, mas também oferece insights sobre a própria natureza da mudança e do desenvolvimento pessoal. A espiral infindável de reflexões sobre esses temas nos lembra que a jornada de autodescoberta é contínua, cheia de reviravoltas e oportunidades para crescimento. Assim como a espiral matematicamente infinita, a exploração psicanalítica nunca cessa, sempre revelando novos horizontes de compreensão.

Site criado e administrado por: Ana Luiza Faria | Ponto Psi
Since: ©2022

bottom of page