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O paradoxo de buscar liberdade criando novas prisões

  • Foto do escritor: Ana Luiza Faria
    Ana Luiza Faria
  • 12 de set.
  • 3 min de leitura

Por Ana Luiza Faria

olagem surrealista delicada com figura humana vintage caminhando em direção a uma abertura dourada, rodeada por formas orgânicas, flores secas e linhas finas pretas e douradas sobre fundo de papel amassado. A composição evoca o paradoxo de buscar liberdade criando novas prisões.
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A palavra liberdade carrega um fascínio quase absoluto. Desde cedo aprendemos a sonhar com a ideia de sermos donos de nossos próprios passos, livres das expectativas alheias, capazes de escolher o que quisermos. No entanto, quanto mais tentamos alcançar essa liberdade, mais percebemos que ela nunca se apresenta de forma pura. Ao contrário, parece que em cada tentativa de nos libertar acabamos construindo novas formas de aprisionamento.


Pense, por exemplo, em quem busca independência financeira. O desejo legítimo de não depender de ninguém pode levar a uma rotina de trabalho incessante, a tantas horas acumuladas que já não sobra espaço para respirar. O dinheiro, antes visto como caminho para a liberdade, se torna uma corrente invisível que prende à produtividade constante. O mesmo acontece com quem deseja a liberdade emocional: ao tentar não se apegar a ninguém, muitas vezes ergue muros tão altos que já não consegue deixar ninguém entrar.


Esse paradoxo nos acompanha em pequenas e grandes escolhas. Quando idealizamos a liberdade, tendemos a confundi-la com controle absoluto sobre a vida. Criamos regras rígidas, planejamos rotinas impecáveis, acumulamos informações para prever o futuro. Mas é justamente nessa tentativa de controlar tudo que vamos nos enredando em novas prisões: agendas sobrecarregadas, padrões perfeccionistas, expectativas inalcançáveis. O medo de perder a liberdade nos prende ainda mais.


Há também a dimensão cultural desse paradoxo. Vivemos em uma sociedade que valoriza a autonomia a qualquer custo. Somos incentivados a “ser únicos”, a “seguir nosso próprio caminho”, mas essa suposta liberdade logo se transforma em uma nova obrigação: não podemos parecer comuns, não podemos falhar, não podemos simplesmente descansar. A pressão para ser livre se torna, ela mesma, um tipo de prisão.


O que muitas vezes esquecemos é que a liberdade não está na ausência de vínculos ou de limites. Pelo contrário, ela se manifesta quando conseguimos habitar esses vínculos sem nos perdermos, quando aceitamos que limites fazem parte da vida. Não se trata de romper todas as correntes, mas de escolher quais correntes nos permitem viver de forma mais autêntica. Há relações que, em vez de nos aprisionar, nos sustentam; há rotinas que, em vez de nos sufocar, nos oferecem estrutura para respirar.


Buscar liberdade não deveria ser uma luta contra todas as formas de limite, mas sim um exercício de consciência: de que prisões estou criando sem perceber? O que me parece libertador, mas está consumindo minhas forças? A verdadeira liberdade talvez não seja um estado final a ser conquistado, mas uma prática cotidiana de perceber onde posso flexibilizar e onde preciso aceitar os contornos inevitáveis da existência.


Quando olhamos por essa perspectiva, entendemos que liberdade e prisão não são opostos absolutos. São movimentos que se entrelaçam, revelando que até nos espaços de maior autonomia ainda carregamos condicionamentos internos e externos. A questão não é eliminar todos os limites, mas aprender a viver de forma consciente dentro deles, reconhecendo quais escolhas realmente nos aproximam de nós mesmos e quais apenas repetem padrões de aprisionamento.


Assim, o paradoxo deixa de ser um problema insolúvel e passa a ser uma oportunidade de reflexão. Afinal, talvez a maior liberdade seja poder olhar para as próprias prisões e, com coragem, decidir quais delas ainda fazem sentido e quais já não cabem mais em quem estamos nos tornando.

paradoxo de buscar liberdade criando novas prisões


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