O valor da simplicidade em tempos de excesso
- Ana Luiza Faria
- 31 de out.
- 2 min de leitura
Por Ana Luiza Faria

Vivemos uma era em que tudo parece gritar por atenção. São vozes, imagens, opiniões e estímulos que se sobrepõem, disputando o espaço do olhar e da mente. O excesso tornou-se parte do cotidiano, travestido de eficiência, produtividade e sucesso. No entanto, quanto mais acumulamos informações, objetos, tarefas, expectativas mais distante parece ficar o essencial. A simplicidade, outrora associada à pureza e à clareza, hoje se revela quase como um ato de resistência silenciosa.
Ser simples não é ser menos. Pelo contrário, é um exercício de discernimento. É a capacidade de escolher o que realmente importa, de perceber a diferença entre o que é necessário e o que é apenas ruído. A simplicidade convida à pausa não aquela imposta pelo cansaço, mas a que nasce do desejo genuíno de estar presente. É um gesto de maturidade emocional, uma forma de cuidado consigo e com o mundo.
Em tempos de excesso, tudo se torna veloz e descartável: conversas, relações, desejos. A complexidade se confunde com profundidade, e o acúmulo é tomado como sinônimo de valor. No entanto, a vida não se mede pela soma do que possuímos, mas pela qualidade do que conseguimos sustentar internamente. A simplicidade devolve profundidade às coisas. Quando o olhar desacelera, o banal se revela extraordinário: o café que esfria devagar, o som da chuva, o silêncio que existe entre uma palavra e outra.
A simplicidade não é uma estética, é uma postura. Ela implica renúncia o que muitas vezes é o que mais assusta. Abrir mão do que é supérfluo, das distrações que anestesiam, das urgências inventadas pelo ritmo do mundo. Requer coragem para desapegar-se das camadas que escondem o que é autêntico. Exige um tipo de coragem que não se exibe, que se manifesta na serenidade de quem aprendeu a escutar mais do que falar, a observar mais do que intervir.
Há uma beleza discreta naquilo que é simples. É a beleza que não precisa se afirmar, que não depende de adornos para existir. É o que se mantém inteiro mesmo quando tudo ao redor parece em colapso. Essa beleza não se impõe ela se insinua, como uma brisa que chega sem anunciar. Em um mundo saturado de imagens e ruídos, talvez o maior luxo seja poder respirar sem pressa, habitar um espaço interno onde as coisas não precisam ser excessivas para serem significativas.
A simplicidade também é uma forma de ética. Ela nos convida a um modo de vida mais consciente, mais cuidadoso com o tempo e com os outros. Quando nos libertamos da lógica do acúmulo, abrimos espaço para a escuta, para a empatia, para a presença real. Descobrimos que menos não é vazio, mas espaço, o espaço necessário para que o que é essencial possa florescer.
Em tempos de excesso, escolher a simplicidade é um gesto subversivo. É dizer não ao barulho, ao consumo desenfreado, à pressa que nos rouba a alma. É escolher viver com intenção, com clareza, com delicadeza. A simplicidade não é um retorno ao passado, mas um caminho de volta para si. É a arte de se reconciliar com o que é suficiente e descobrir, enfim, que o suficiente sempre foi o bastante.
O valor da simplicidade em tempos de excesso


